Vai Encarar ou Vai Correr?

Era a minha primeira participação oficial em uma corrida, estava ansiosa. Haviam duas opções de percurso, 4 e 8 km. Optei pelo de 4 km, pois era minha primeira vez, e mal sabia se chegaria mesmo até o fim (viva). Alguns amigos prometerem que iriam lá torcer por mim - teve uma que até disse que correria parte do percurso comigo - mas cheguei atrasada acompanhada de uma outra amiga japonesinha, e não vi os demais por lá, mas enfim, whatever, fui lá para o fim da fila fazer o aquecimento, enquanto a amiga japonesinha se posicionou próxima à largada para tirar fotos minhas quando eu passasse..

Tinha cerca de 1.108 atletas, uns 500 participando no trajeto de 4 km e o restante no de 8 km. Haviam tendas de música eletrônicas tocadas por DJs durante todo o percurso, era uma animação só. Deu a largada fui embora no meio galera, eu estava correndo de boa, a certa altura, cerca de uns 800 metros, minha língua ainda nem estava de fora, eu avistei uma anãnzinha.

Ultrapassei-a na maior moral e continue correndo, passei por um túnel de músicas muito loucas, entrei de marcha a ré, dançando em homenagem a Michael Jackson, dei umas viradas triunfais com o DJ e continue correndo. De repente reparei que a anãnzinha estava correndo lá na frente... Fiquei indignada, caramba, como era possível? Eu a tinha ultrapassado a um bom tempo, e afinal minhas pernas eram maiorzinhas que as dela - tenho 1,57 m de altura - ela não tinha mais que uns 90 cm!. Acelerei e a ultrapassei novamente. Imagina eu perder para uma anãnzinha?! Seria fim de carreira da atleta aqui....eu tinha que lutar! Segui acelerada mas a língua já estava dando sinal de querer sair pra fora da boca. ...Então, achei que era hora de andar um pouco... Afinal entrei lá para fazer um DUATHLON (corrida x caminhada), estava na hora de caminhar.

Daqui a pouco, passa disparado por mim, quem? Ela, a anãnzinha.... Comecei a correr de novo, pensei: cacete ! Essa danada corre feito diabinha... Dei um gás e a passei de novo, então corri mesmo, corri pra valer de fato... A língua teimando em ficar de fora., mas continuei correndo, e pensei: agora ela não me alcança mais.

Então veio outro túnel de música com DJs, entrei saltitante em marcha a ré na tenda - alguns atletas que passavam batiam em minha mão solidariamente e era ‘mó’ parceria na dança.... Sai estilo Michael Jackson de marcha a ré novamente... Era só alegria! Eu estava felizona, corre-minhando, quando ergo a cabeça e vejo lá na frente, QUEM? Se pensou ‘ela’, a anãnzinha, acertou! Eu não queria crer, mas era sim, era a própria.

Putz, como era possível?! Ela tinha ficado para trás, sem contar que minha perna é maior que a dela, ainda assim eu estava para trás, dããã, como assim?! A diabinha devia ter algum pacto com o além, ou então cortou caminho por outro local! Raciocinando um pouco melhor, percebi onde eu perdia terreno. Quando eu chegava nas tendas de músicas com DJs, me empolgava, entrava dançando em vira-voltas e correndo de marcha a ré fazendo farra, e é aí que ela, disparava na frente, pois ela não enrolava e botava sebo nas canelas. Quando eu alcançava a danada, lá vinha mais uma tenda com música, e pronto, lá eu me acabava e ficava pra trás. Na verdade eu estava fazendo um triathlon (corrida x caminhada x dança).

Então, num último suspiro - estava difícil guardar a língua dentro da boca, porque a esta altura o coração também queria sair para fora - juntei todas as forças que ainda restavam (não eram muitas mais não) e corri, corri, corri, ultrapassei a anãnzinha , e já aproveitei e ultrapassei um velho xarope que já estava também enchendo o saco por ficar sempre na minha frente (depois soube que o 'xarope' era o deputado Alex Canzini), e ultrapassei mais uns doidos lá - um com chapéu em forma de bolo (tinha até velinhas), outros parelhados a ele com chapéuzinhos de aniversário e bexigas na mão (a corrida era só alegria).

Quando estava cruzando a linha de chegada - muito emocionada por ser a primeira corrida oficial na minha vida de atleta - avistei meus amigos que após a corrida, solidariamente me ajudaram a devorar uma melancia inteira e um cacho de bananas, que estava à disposição dos atletas. Penso que o caso de algumas amigas minhas, como diz um amigo, é de anaconda na barriga! Uma foi responsável pela marca incrível de meia melancia e outra, a japonesinha , comeu uma penca de banana sozinha, embora ela afirme que foram apenas 4 unidades. isto que elas só foram lá para assistir a corrida imaginem se corressem também.

Mas você me perguntará, e a ANÃ? Que fim levou? Meu camarada, não a vi mais, das duas uma : ou ela parou lá atrás o que duvido muito, pois corria deslizando feito uma fadinha/diabinha no asfalto, ou ela partiu para o trajeto de 8 km. Sem ela talvez eu não tivesse conseguido forças para ir até o fim, pois na verdade eu não disputava com ela, mas sim comigo mesma. Essa anãnzinha foi uma jóia rara que encontrei no caminho e me deu uma lição de vida incalculável : quando queremos, tudo podemos!

Entao, vai encarar ou vai correr atrás de seus sonhos e objetivos? Eu encarei correndo, embora minha vida de atleta esteja momentâneamente suspensa, pois está sendo quase uma maratona levantar do micro e ir até a caixa de remédios pegar um dorflex. A dor nas pernas está de lascar, mas me conforto olhando meu certificado de oitava colocada entre 9 participantes na categoria das 'velhinhas', sim porque me puseram na categoria errada o que de certa forma 'melhora' minha colocação, pois na categoria correta eu seria a vigésima terceira ente 26 atletas. Entre 631 pessoas (homens e mulheres) que disputaram categoria 4 km, fiquei classificada no geral de tempo em 586, considerando que só tenho por hábito caminhar e não correr foi uma performance excelente. Simbóra meu povo, agora para a corrida da tinta!