Caminho do Sol

PERFIL DE UM PEREGRINO

Deixei de ficar refletindo sobre O QUE A VIDA ME RESERVA, para encarar sobre O QUE ESTOU FAZENDO DE MINHA VIDA... daí optei para uma nova fase: assumir a postura de um PEREGRINO. Com uma mochila nas costas, um cantil pendurado nos ombros e um cajado na mão, resolvi trilhar (com a esposa) os 240 Kms. do CAMINHO DO SOL(www.caminhodosol.org.). Por quê? Para encarar o desafio e sua superação, além de estar mais próximo da natureza, em contato com a simplicidade e, ainda, mergulhar nas profundezas do meu ser: descobrir melhor a mim mesmo.

Convivi diariamente com o sol forte, as subidas e descidas do percurso; com as inúmeras trilhas e setas indicativas do caminho; com a sede e a fome, as dores musculares, as três bolhas no calcanhar do pé esquerdo e o ferimento na parte posterior do dedão do pé direito, causada pelo tênis mal amarrado. Tomei “DORFLEX” e fiz escalda-pés. Carreguei pendurado na mochila, sem receio algum as peças de roupas ainda molhadas do dia anterior, penduradas ali para acabar de secar durante o trajeto. Pode parecer hilário, mas necessário.

Parei inúmeras vezes para descansar, tirar pedrinhas e barro do tênis, fazer xixi e tomar água; para tirar fotos, esperar os companheiros de jornada ou certificar-me se estava na direção correta. Andei junto, separado, devagar e com pressa; de maneira tranqüila e por vezes ofegante. Passei por canaviais extensos e trilhas sem fim; por pontes, mata-burros, cidades, vilas, fazendas e vendas. Acordei cedo, antes do raiar do sol, dormi cedo por cansaço.Nessa empreitada levei meu corpo ao limite do cansaço físico e mental.

Lavei minhas roupas, senti o peso da mochila, compartilhei o banheiro, quarto, tanque, varal, cremes, pomadas e talcos para os pés; repelentes e protetor solar. Acordei de madrugada, com o piar dos pássaros e por vezes, com o barulho dos passos, a tosse ou ronco de companheiros do quarto. Senti a chuva fria no corpo e na roupa. Fotografei muito. Tomei muita água, enchi e esvaziei vários cantis, comi de tudo: de salada a arroz-com-feijão e frutas, no entanto fiz em cada refeição um propósito de renúncia: NUNCA EXIGI NADA, OPTEI POR ACEITAR TUDO O QUE ME OFERECIAM E SERVIAM, DE BOM GRADO, sem recusa, nem descaso.

Blasfemei, reclamei do sol forte, do cansaço, da sede, do trajeto e até de algum local que me acolheu como pousada. Dormi em ambientes partilhados com outras pessoas, daí não tive o direito de escolha sobre a hora de acordar. Tomei banho sem privacidade expondo minha nudez a outrem..Usei traje incomum, bem diferente do utilizado no dia-a-dia: CAMISETA, TÊNIS, MEIAS GROSSAS, BERMUDA, UM CANTIL PENDURADO; CHAPÉU COM PROTETOR DE SOL PARA A NUCA , SEM ESQUECER DA MOCHILA PESADA NAS COSTAS e um CAJADO NA MÃO.

Descobri que o peregrino tem um abraço especial: o mais afetuoso que já conheci. Um contato físico aberto, sem ameaçar a intimidade do outro, tocando-se de maneira natural, saudável, afável mesmo, numa demonstração pura e simples de CARINHO, ACOLHIMENTO e AMOR AO PRÓXIMO. O custo? A CORAGEM DE SE TORNAR VULNERÁVEL sem, no entanto, estar preocupado com a rejeição, embora inúmeras vezes estivesse com a roupa e o corpo impregnados de suor. Nele se sente apoio, força e segurança, compartilhando -se, pelo contato físico, fortes emoções. De olhos abertos ou fechados, a atenção se concentra na RESPIRAÇÃO, calma, tranqüila, relaxada e NO CONTATO DE CORAÇÃO COM CORAÇÃO. Aprendi que o Peregrino não EXIGE, AGRADECE.

CONCLUSÃO: Faço minhas as palavras de GIBRAN KAHLIL GIBRAN: “Certa vez, notei um homem sentado perto de Jerusalém. Todas as vezes em que eu passa ali. Ele continuava no mesmo lugar. Perguntei ao meu guia quem era, e ele, rindo, disse que o velho tinha enlouquecido. Então, resolvi aproximar-me, e perguntei: “ O que você está fazendo?” “Estou olhando os campos”, respondeu o homem. “E o que mais?”, eu quis saber. “Isto não é suficiente para entender a vida?” , respondeu o tal homem a quem chamavam de louco.

VIVEMOS LUTANDO PELAS COISAS COMPLICADAS , E ESQUECEMOS QUE OLHAR OS CAMPOS É MAIS DO QUE SUFICIENTE PARA COMPREENDER DEUS”.Completando: E A GENTE TAMBÉM!

(by Tadeu Miranda)

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